A poesia é um rio que corre em mim, sempre em busca de suas nascentes.

A bananeira


 
A vida é como uma saliente e robusta bananeira
de cinco metros de altura.
Os melhores frutos estão no topo.
Onde um simples equilíbrio na ponta dos dedos
não pode alcançá-los.
Por mais cansativo e doloroso que seja,
por mais trabalhoso e merecedor que pareça.
É preciso mais, muito mais que isso, para saboreá-los.
 
É impossível tê-los sem derrubar o tronco.
É imprescindível abacás, para suportar,
a escalada em seu corpo... em seu talo
escamoso, suculento, falso e escorregadio.
 
 Costure-se nas bainhas das folhas da bananeira.
Para saber a sua própria origem e desvendar o que há nela.
Terá que descobrir suas verdades e ausências;
terá que cavar, serrar e beber do seu subterrâneo.
Uma imersão na terra do desespero e do conhecimento,
para amadurecer os frutos... sem o uso de carbureto.
 
Seu verdadeiro caule está dentro de você.
Onde suas mãos não chegarão, nem seus olhos verão,
se não cortar o pseudocaule, se não cortar a superficialidade,
não gozará do fruto e ele apodrecerá.
Cairá peco ou servirá de alimento para insetos e pássaros.
 
Irá padecer e feder,
afetando todo o caule
e tudo ao seu redor.
 
Derrube o tronco, amorteça os frutos,
aprecie sua estrutura e os consuma
nas diversas formas:
compota, farinha, doce, geleia, creme, licor, etc.
Seja nanica, maça, prata, d’água, terra, etc.
É o seu fruto!
Que foi pedido, dado, cultivado e, se merecido, obtido.
Corte o caule, o falso caule: pseudocaule.
Para aproveitar e permitir novos frutos nascerem.
 
*Foto do site casadaciencia.com.br
 
* Ideia da arte: InFeto / Feitura: Guga